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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cairo, a cultura do mundo Egípcio

Cairo é conhecida pelos egípcios como a "mãe de todas as cidades" e foi fundada no ano 116 a.c. Desembarcamos na capital egípcia ao lado de centenas de egípcios, trajados com roupas características da religião mulçumana, e logo de cara enfrentamos a primeira barreira do idioma, o árabe. Passamos pelo sistema imigratório, com dezenas de guardas com cara de mau e fomos ao banheiro. Uma senhora, muito sorridente nos mostrou o toalete, e após eu agradecer e comentar com Silvana a simpatia do povo, a senhora logo me estendeu a mão pedindo alguma moeda. Descobri logo na chegada, que além de sorridente os egípcios não perdem uma oportunidade de pedir gorjetas.
Nos encaminhamos até a casa de câmbio, para converter nossos euros em libra egípcia.
Já eram três da manhã, então procuramos um táxi para nos levar até o Hostel no Cairo. Na saída do aeroporto um grupo de taxistas se aproximaram de nós e antes que conseguíssemos responder qualquer coisa, uma pequena discussão, em árabe, começou-se e nos apavorou.
Aquilo mais parecia um grupo de terroristas brigando para decidir quem seria o homem bomba do ataque suicida. Então, eles decidiram quem nos levaria até o destino, após empurrar para chão um dos homens que tentava furar a fila. O carro não tinha placa de táxi, ou qualquer identificação e isso gerou um pequeno medo e muita desconfiança em nós duas. Ao sair do aeroporto um guarda anotou a placa do carro, o nome do motorista e nos dispensou. Ao menos a policia federal saberia algum dado nosso, caso duas turistas desaparecessem.


Na escuridão da cidade, era difícil enxergar as belezas daquele mundo antigo, e para nos ajudar o motorista não sabia ao certo onde era nosso Hostel.
Ao chegar à região central, próximo na praça doTahrir, pudemos ver centenas de pessoas, em plena madrugada, passeando pelas ruas, jogando bola, crianças brincando em áreas verdes, e muitos homens lotando os bares a beira da avenida sentados e fumando narguilé. Não dava para acreditar que eram quatro da manhã e que a vida noturna era tão agitada no Cairo.
O Oásis hostel ficava próximo ao Museu nacional, e de noite a região já mostrava o quão pobre e feia era. Prédios antigos, com fachadas sujas e quebradas eram vizinhos do nosso Oásis.
O nome do local em nada tinha a ver com hostel. O motorista chamou o porteiro e conversou com ele em Árabe, recebeu o valor da corrida, 80 pounds, e nos deixou na portaria.
O porteiro chamou o elevador, era um daqueles de prédios da década de 20, sem porta que dão solavancos que nos faz pensar que cairemos a qualquer momento. Para ajudar, o elevador não deixava no andar do hostel, precisávamos subir mais dois lances de escadas.
A surpresa foi ainda pior ao chegar ao quarto, minúsculo, com espaço apenas para as duas camas de solteiro. As janelas abertas ajudavam o ar quente circular no quarto abafado, pois nem mesmo um ventilador havia para amenizar os 30 graus daquela noite. Os lençóis sujos cobriam a cama, que parecia da década de 40.
Aquele quarto mais parecia cenário de filme de terror, pois até o banheiro, que seria dividido com mais quatro quartos, ficava no corredor. Era tarde da noite, então decidimos dormir e começar as reclamações quando estivesse claro.
Dormir foi um sonho, que infelizmente eu não tive. O calor da noite com o incomodo dos mosquitos e o barulho frenético das buzinas dos carros em frente ao nosso prédio somado a hora de orações, na qual os auto falantes das mesquitas chamam os fiéis para as preces a Alah 3 vezes ao dia fez daquela a noite mais difícil no Cairo.

Mahmoud Mo era o simpático recepcionista do Oásis Hostel, e após nos dar algumas dicas de onde ir naquele dia e nos prometer mudar para um quarto melhor ele começou um bate-papo sobre a cultura do povo egípcio e sobre as malandragens das pessoas que trabalham com turistas.
É impossível não ser reconhecido como turista na cidade; está escrito em nossa cara pálida por falta de sol, em nossos traços faciais, mas principalmente em nossa forma de se vestir; ousados pelo calor do sol. Os árabes adoram perfumes e roupas coloridas. As mulheres usam vestidos enfeitados, quando não completamente pretos.

O Egito desenvolveu-se em torno do rio Nilo, que banha e fertiliza o país. Foram construídos importantes complexos funerários para os faraós em Abidos e Sakkara. Os hieróglifos era a forma de escrever e a língua egípcia, e está espalhado em milhares de monumentos da cidade e principalmente em partes de monumentos do museu.
Nas ruas é necessário atenção, pois milhares de vendedores ambulantes nos abordam a cada metro caminhado. Eles possuem de tudo um pouco para vender: Jóias, perfumes, tapetes, relógios, papiro, roupas e comidas; e começam a conversa perguntando em qual idioma desejamos negociar, sempre com o inglês, espanhol e muitas vezes até japonês na ponta da língua; aqueles homens nos seguem pelas ruas tentando de todas as formas fecharem um bom negocio.
Acordamos tarde, afinal já era manhã quando dormimos. Solicitamos o café da manhã do hostel, pago a parte, e ao chegar o primeiro choque: Pães adormecidos com geléia e queijo polenguinho acompanhados de leite com nescafé ou chá matte, tudo saboreado no banco entre as plantas e três gatos magrelos, que miavam sem parar pedindo algo para comer. O pão estava tão seco, que nem o gato quis comer. O hostel mais parecia um acampamento, sem barracas, com quartos alternativos e com todos os hospedes alternativos também, dentre eles um casal de hippies, um historiador francês, uma mochileira chinesa e um viajante solitário. Silvana olhou para mim e disse:

- Ai amiga! Que fim de mundo é esse que nos metemos!

Fomos ao Museu de história nacional, mas atravessar a avenida que separava o museu da rua de nosso hostel não foi uma tarefa fácil. Milhares de carros cruzavam a avenida, que não havia farol, faixa de pedestre ou guarda metropolitano para ajudar as pessoas a atravessarem. Foi um dos maiores sufoco enfrentado. Aprendemos então a única forma de cruzar aquela grande avenida: Devíamos olhar fixamente para os olhos de cada motorista e com autoconfiança atravessar sem medo na frente dos carros. Em meio a buzinas e muito barulho de pessoas gritando, completamos a tarefa com ajuda de uma senhora que ofereceu o braço para que a acompanhássemos.

Dentro do museu, mergulhamos em uma das mais belas aulas de arte e história do mundo. Silvana é professora de artes, e essa era a primeira viagem do roteiro de artes que ela montou, depois do Egito, as próximas paradas seriam Grécia e Roma.
Silvana estava encantada com a riqueza de objetos que se encontravam naquele museu, eram três andares de arte egípcia, que surgiram há mais de 3000 anos A.C e serve de modelo até hoje para dezenas de artistas, por procurar refletir os movimentos dos corpos e apresenta delicadeza nas formas. Ao tocar em um dos sarcófagos; Silvana sentiu-se totalmente mergulhada na história. Andar por entre aquelas obras de arte, pedaços de muros, móveis e jóias que pertenceram a reis, e milhares de objetos que reconstituem a vida de um povo tão antigo e famoso como o do Egito nos fazia sentir orgulhosas de ter chegado ali sozinhas, e assim poder contar com nossas próprias palavras um pouco da história.
A sala mais esperada para ser visitada era a que tinha a mascara de ouro de Tutankamon. Ele foi um faraó egípcio que assumiu o trono aos doze anos de idade sendo o último rei da décima oitava dinastia do Egito. O rei Tutankamon morreu aos 19 anos em 1324 a.c. Seu tumulo não foi tão belo como o de outros faraós, entretanto foi uma das poucas sepulturas reais encontradas quase intacta e com um número muito grande de riquezas entre elas joias, tecidos, armas, mobilia, ouro e textos sagrados que revelam como era o Egito de 3400 anos atrás.
A história deste rei é cheia de mistérios e muitos ainda não conseguem explicar ao certo suas origens e a causa de sua morte prematura, mas uma das coisas mais interessantes é sobre o casamento de Tuthankamon e Ankhesenamon, que eram irmãos e foram levados a Tebas para serem coroados e depois casarem-se, ele com apenas 9 anos e ela com 11 anos de idade. O faraó também ficou famoso por ter jogado uma praga sobre todos aqueles que perturbassem o seu descanso eterno; e foi encontrado uma inscrição na parede da pirâmide onde estava a múmia do faraó, que dizia que morreria aquele que perturbasse o sono eterno do faraó. O fato é que alguns trabalhadores da equipe das escavações que descobriram o tumulo morreram de forma inesperada durante o trabalho arqueológico após respirarem fungos mortais impregnados nas paredes, aumentando assim os rumores desta lenda.
As escavações foram feitas no Vale dos Reis ao Sul do Cairo, outro ponto histórico que queríamos conhecer nesta grande viagem faraônica.
Terminamos nossa expedição pelo museu visitando centenas de sarcófagos e múmias. Os egípcios acreditavam que após a morte física a alma continuava existindo na eternidade e que o corpo físico também continuava vivendo, e por isso usavam um processo de mumificação que conservava o corpo por milhares de anos sem se deformar.

O caos do trânsito nos assustava, aquela multidão andando de um lado para o outro nas ruas, e para piorar um calor de 35 graus queimando minha cabeça dificultava até os pensamentos mais simples. Decidimos procurar um lugar para almoçar, a fome já apertava e até então não tínhamos encontrado nada visualmente apetitoso. Naquela região não havia muito bares ou restaurantes, encontramos assim um pequeno restaurante egípcio. Pedimos o cardápio, mas só para ver as figuras, porque estava tudo escrito em árabe. Pedi o único prato feito com frango e ao receber, fiquei desiludida com a cara dele; ao experimentar, não consegui continuar.
Aquele prato era feito com os miúdos do frango, como fígado, rins e coração, prato típico do Egito; simplesmente o que eu mais detesto comer. Devolvi o prato para o garçom, que me olhou decepcionado, e me senti a pior pessoa do mundo, pois não consegui digerir pela primeira vez um prato típico do país. Silvana ainda arriscou novas garfadas, mas também desistiu. Pagamos, pedimos desculpas ao gerente e fomos embora, com o rabo entre as pernas e a barriga roncando.

- Ai amiga, eu to com fome! Quase dois dias sem comer nada descente!

Silvana choramingava e por isso fomos em busca de algum lanche para saciar aquela terrível fome. Caminhamos por cinco quarteirões, e tudo o que encontramos foi um pequeno mercado com algumas frutas, bolacha de sal, iogurte natural sem sabor e suco de caixinha. Compramos o suficiente para o jantar e o café da manhã também.
Voltamos para o hostel e um novo problema de instalação; não havia água quente no banheiro e o ralo estava entupido. Ainda bem que o calor era suficiente para que pudéssemos agüentar a água fria e que Mahmoud Mo conseguiu nos transferir de quarto, esse um pouco maior e com ventilador, para compensar as mazelas do hostel.

- Menos mal amiga! Por esse preço, não era de se esperar muito. Da próxima vez, você lembra de olhar nas entrelinhas e ler o que o hostel oferece, além de conferir no site as fotos do quarto.

Cogitamos a idéia de mudar de hotel, mas as aparências da maioria dos que tinham na região também não era boa, e pelo preço que estávamos pagando, era melhor pensar que estávamos num acampamento de luxo, ou seja, com cama e quarto privativo!